Quem enxerga a morte como um fim é mais tranquilo do que quem a vê como continuação da vida

Infelizmente, o "Espiritismo" brasileiro foi convertido em uma religião. Como tal, despreza a racionalidade e aprova dogmas sem pé nem cabeça. O verniz científico só serve para dar legitimidade a dogmas que mais parecem estórias da Carochinha. Quem acredita em tais dogmas acaba boiando e vivendo em uma realidade paralela sem sentido.

Allan Kardec havia dito, com base em suas pesquisas (infelizmente ignoradas por quem vive bajulando-o), que o mundo espiritual em nada se parece com o mundo material. Não adianta procurar na Terra algum referencial para a vida espiritual que não existe. 

Mas chegou um beato alucinado do interior de Minas que fez uma lambança na doutrina e que disse que sim: "o mundo espiritual se parece com o material, até porque o material é cópia do espiritual". Quanta asneira! Mas como o beato, conhecido como Chico Xavier, atraia muita admiração, multidões embarcaram felizes nesta canoa furada.

Vamos ser sinceros: quem acredita na vida espiritual como continuação da vida, acaba por ficar especulando como seria a vida lá, sempre torcendo para que coisas materiais de nossa vida presente se mantenham, como crianças que desejam continuar com as suas brincadeiras infantis na vida adulta.

Mesmo que realmente haja vida do outro lado, não seria melhor aceitar a morte como um fim, para não ficar especulando como as coisas são do outro lado. Noto que quem não aceita a reencarnação e a vida pós-morte vive muito mais tranquilo, aceitando melhor a perda de entes queridos e o seu próprio fim futuro.

Porque cada vida é uma só. Reencarnar nem sempre significa continuação. Reencarnar leva tempo, muitos séculos no sistema horário terrestre. Muita coisa muda durante o tempo em que estamos na erraticidade. Porque achar que continuaríamos ossos projetos em um contexto muito diferente do atual, não raramente oposto?

Aceitar a morte como um fim é entender que mesmo que continuemos vivos, estaremos na verdade nos preparando para experiências inéditas e novas oportunidades. Deixamos quase tudo aqui a materialidade, inclusive a nossa identidade. O Zé da Silva não será mais Zé da Silva quando falecer. Poderá voltar como Mário da Costa; e que sabe como Maria da Conceição?

Por isso que é melhor que aceitemos a morte como um fim, mesmo que este fim não exista. Pois o fim de uma vida é o fim de suas características. Se o cara reencarnar, não será mais o mesmo e encontrará um mundo completamente diferente, com desafios e interesses inéditos. Como um ator que sai de uma obra para fazer outra, com personagem totalmente diferente.

Por isso que ateus aceitam melhor a morte que os alucinados devotos de Chico Xavier. Estes passam o tempo todo especulando sobre o mundo espiritual, sempre acreditando que sua identidade e seus interesses mais mesquinhos serão preservados com o fechar dos túmulos e seus corpos totalmente devorados por larvas famintas. Acordem, chiquistas!

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