"Você não acredita em Deus? Não importa. Deus acredita em você"

Esta frase, dita pelo beato católico de origem medieval Chico Xavier, que foi adotado como maior liderança do "Espiritismo" brasileiro, nunca deveria ter sido dita se esta doutrina tivesse de fato alguma seriedade. É uma declaração coerente ao igrejismo medieval inserido covardemente na doutrina.

Esta frase também revela uma traição sem pudores ao pensamento de Allan Kardec. Segundo as obras kardecianas, o que se chama de "Deus" é uma "inteligência suprema e causa primária de todas as coisas". Onde está escrito nesta frase de que Deus seria uma pessoa, um espírito, ou algum ser antropomorfo? Segundo a definição de Kardec, Deus pode ser uma ideia, um conjunto de processos.

Isso mostra que o ateísmo espírita é possível, já que ateismo é a não-crença em divindades, em pessoas invisíveis superpoderosas que controlam o universo. A ideia de Deus como um conjunto de leis estudadas pelas ciências parece mais plausível. Mas as religiões insistem no antropomorfismo de Deis porque nosso instinto exige a presença de um tutor, o "Dono do Universo".

A frase que ilustra o título desta postagem, de responsabilidade de quem deturpou sem dó nem piedade o pensamento kardeciano - embora seguidores do "médium" e leigos em "Espiritismo" não percebam isto - é típica de quem acredita e defende a imagem antropomórfica de Deus. A humanidade, em sua tenra infância em um planeta de provas e expiação, necessita de alguém para dizer o que deve ou não ser feito.

A transformação da ideia do controle universal em forma de uma pessoa é muito conveniente para quem não tem a capacidade - ou a coragem - de usar a lógica e desafiar a fé, que nos últimos anos, do contrário do que se esperava, está cada vez mais cega e fanatizada.

Ainda estamos presos a instintos e entre estes, está a necessidade de uma espécie de babá a nos cuidar e a nos dar ordens. A antropomorfização de Deus satisfaz essa necessidade e crer que existe um Gigante Invisível em algum lugar do universo, administrando-o - como fazem as autoridades da Terra - nos tranquiliza e dá a ilusão de que tudo está em perfeita ordem. Ignorando que a natureza é capaz ser auto-gestora.

Com a frase de Chico Xavier, somada a declaração dada por Divaldo Franco anos atrás de que "Deus é um ser de sexo masculino e isso está perfeitamente correto", mostra que o "Espiritismo" brasileiro assumiu sua vocação católico-medieval, rompendo definitivamente do sempre bajulado Allan Kardec, preferindo satisfazer o instinto de fé de seus seguidores do que estimulá-los a pensar.

Porque pensar exige esforço e desafia lideranças. É preciso manter seguidores dopados na plena hipnose religiosa para manter o sistema como está. Por isso que a racionalidade kardeciana precisou ser interrompida para que o "Espiritismo" brasileiro pudesse servir aos senhores da Terra. Tudo sobre a orientação do "Senhor do Universo". Acredite ou não.

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