Religião é a prolongação da infância

Apesar de fatos provarem o oposto, brasileiros pensam que a religiosidade é uma característica de seres humanos evoluídos. Mas a religiosidade começa a desaparecer em sociedades com melhor nível educacional, qualidade de vida satisfatória e que estimula a racionalidade. Até porque a religiosidade tem traços que lembram muito a credulidade infantil.

A religiosidade e a fé fazem parte do instinto humano. Acreditar em um tutor - mesmo invisível - e em conjunto de leis supostamente protetoras e também em uma bondade rigorosamente regulada, são coisas que envolvem o instinto de sobrevivência. Até porque em um mundo problemático, achamos que temos a necessidade de confiar em alguém. Se os visíveis não são confiáveis, confiemos nos invisíveis.

Mesmo assim, nenhuma fé serve para justificar nosso progresso espiritual. O progresso espiritual exige que larguemos a camisa de força da fé. Evoluir significa andar com as próprias pernas. Ficar preso à proteção e as orientações de um tutor, mesmo invisível (o que torna a fé religiosa de certa forma um tanto risível) é muito similar a carência de uma criança, mais do que podemos imaginar.

Imagine um pequeno garoto que acredita em seus super-heróis e elege um como seu protetor, imaginado que o seu favorito lhe acompanha o tempo todo, mesmo que ele não apareça de fato. Você diz a criança que tal amigo imaginário não existe e o garoto faz birra, irritado, dizendo que os adultos não tem a sensibilidade para entender isso. Não lembra muito a reação de um religioso diante de um ateu?

As religiões também possuem dogmas contraditórios. os próprios religiosos entram bastante em contradição. Isso não é um sinal de imaturidade, de incompreensão a uma realidade que se apresenta, apesar de desagradável aos olhos de quem vê? E por ser desagradável, coloca-se no lugar a fé religiosa, que nunca exige o esforço da racionalidade além de mexer com os nossos instintos passionais.

A infância se mostra ainda na necessidade de alguém para orientar. Mas porque não orientarmos pela lógica? A lógica exige esforço e não é instintivo. A fé traz uma pieguice vista como necessária por muita gente. Muitos se mostram apaixonados diante da figura de um homem barbudo de cabelo comprido que muitos creem ser a figura de Jesus, que para muitos é o próprio Deus encarnado.

A fé religiosa tem muito da infância e sua predominância mostra que a humanidade ainda é bem atrasada, comprovando a imaturidade coletiva da espécie humana. Há muito o que aprender e priorizar a - incômoda - racionalidade é uma dessas coisas. Mas não queremos a racionalidade porque ela carece da emotividade catártica que a fé religiosa oferece. 

A criança birrenta que vive dentro das pessoas religiosas insistem com a religiosidade porque ela oferece um prazer quase hormonal que não há na racionalidade. Nossos corações começam a doer, passamos a ter vontade de chorar - não o choro da tristeza mas o choro do prazer. Apesar de infantil, o que a fé oferece de prazer é quase como uma espécie de "orgasmo" da alma.

Esse prazer é confundido com amor a Deus e por isso se torna importante para quem sente. É inútil discutir com um religioso pois imediatamente ele fará birra, já que toda a sociedade - no caso, a brasileira - decidiu que a fé é um direito a ser respeitado rigorosamente. Um direito protegido por lei, segundo a Constituição brasileira, por mais absurda que a fé religiosa possa aparecer.

De qualquer forma, a religiosidade é um resquício da infância, como algo de nossa mais tenra juventude a ser mantida durante a vida adulta. A crença em estórias surreais e em seres fantásticos, invisíveis e superpoderosos nos fascina e por isso insistimos em preservar. É algo que incorporamos à nossa identidade e em casos extremos, representa a nossa única salvação.

Até que decidamos caminhar com as próprias pernas, como fazem os ateus, despidos do deslumbre infantil por Deus, seus auxiliares e as suas leis. Celebremos o ateísmo como a chegada plena à vida adulta. No tempo em que ela finalmente chegar.

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