Conheça a Igreja de Allan Kardec

Pelo jeito, o que mais movimenta os debates nos fóruns espíritas não são as deturpações feitas pelas lideranças brasileiras que seguem os dogmas impostos pela FEB, mas a polêmica de que se o Espiritismo é ou não uma religião. Para nós, não é, mas para muita gente, incluindo os não-chiquistas, é uma religião e isso para essa gente é uma questão fechada, origem de várias polêmicas.

A ideia de que o Espiritismo era uma religião partiu de Roustaing, mas foi solidificada por Chico Xavier. Mesmo os que discordam do médium mineiro se acostumaram com a ideia de associar o mundo dos espíritos com religiosidade, como os fosse impossível imaginar o mundo espiritual como algo diferente de uma igreja ou templo.

Nos atemos aqui aos não-chiquistas que preferem considerar o Espiritismo como uma religião. Vamos enumerar as características deles e tentar entender porque condenam o nosso blogue, sendo incapazes de imaginar a possibilidade de estarmos corretos, o que estimularia uma verificação que poderia nos levar ao verdadeiro conceito.

Mas que é estranho aceitar que um homem, um espírito ou qualquer tipo de individualidade controle um imenso universo para o seu bel-prazer, isso é sim.

Vamos as características desse estranha igreja construída em torno de Allan Kardec, mesmo discordando do igrejismo febiano popularizado por Chico Xavier. 

- Consideram o Espiritismo uma religião (no sentido de igreja, mesmo, apesar da aversão ao termo "igreja");

- Admitem a ciência, mas diferente dos chiquistas, não a usam para ser subordinada a fé;

- Aceitam Deus como uma individualidade divina, embora não antropomorfize como fazem os chiquistas;

- Não admitem o ateísmo espírita e se horrorizam só de imaginar essa possibilidade;

- Exigem que o mundo espiritual seja controlado por esta individualidade (pessoa) e acreditam que espíritos (pessoas) controlam tudo, inclusive os fenômenos naturais e a criação de seres;

- Discordam de Chico Xavier, mas não se preocupam em tirá-lo do pedestal. Apesar de rejeitar as ideias do médium, preservam a sua mitologia, como se Xavier fosse, de alguma forma, importante para eles. Preferem desprezá-lo do que desmascará-lo;

- Por acreditarem na individualidade de Deus, fazem orações e tratam a sim mesmos como "irmãos";

- Apesar de não terem sacramentos e não acreditarem em santidades, aceitam a divinização de alguns ritos e algumas personalidades;

- Acreditam que Kardec não estudou, mas "recebeu" a codificação dos espíritos, que para os seguidores da Igreja Kardeciana, são os verdadeiros responsáveis da codificação;

- Contestam a ideia de Kardec como autor da doutrina. Apesar de admitir que ele não foi médium, o trata como tal, como se a função dele fosse apenas "receber" as orientações espirituais;

- Tratam as obras da codificação como uma doutrina fechada a ser aceita sem contestar e que não pode ser debatido, do contrário que o codificador havia dito várias vezes em suas obras;

- Como os chiquistas, enxergam a dimensão espiritual como uma igreja e acreditam (nem todos) na tese da "punição/recompensa" enxertada na doutrina pelos dissidentes católicos;

- Enquanto os chiquistas prefiram ignorar o aspecto científico da doutrina, os adeptos da Igreja Kardeciana, não se limitam ao tema "moral", e e gostam de conversar muito sobre ciência, prioritariamente sobre Física Quântica e Astronomia;

- Aceitam que espíritos superiores vivam na Terra, mesmo que a codificação tenha dito que os espíritos que vivem neste planeta tem a mesma natureza de evolução inferior (embora com subníveis diversos) que é inerente a um planeta de provas e de expiação;

- Consideram pontos da codificação como absolutos, definitivos, desprezando o contexto histórico do cotidiano da época em que o codificador fez o seu trabalho;

- Tratam Kardec não como pesquisador, mas como um missionário, o que segundo o nosso entendimento é uma forma de divinização.

São essas as principais características desta igreja construída em torno de Allan Kardec. E nossos pêsames em admitir que graças a capacidade de cada um interpretar de seu modo a doutrina, temos na pratica, vários tipos de Espiritismo, um bem diferente do outro. 

Temos que aceitar essa realidade imposta pelo mau entendimento da doutrina que faz muitos se sentem confortáveis em transformá-la em uma religião.

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