Se não bastasse "aquele" Deus, a gente ainda tem que aguentar um outro "Deus": a Pátria

Religiosos costumam ser patriotas. Acostumados a cultuar coisas abstratas e sem confirmação existencial, como divindades, amor, fé, paz, etc., encasquetaram de que deveriam também cultuar a "Pátria", coisa que eles nem sabem direito do que se trata e que para eles simbolizaria tudo de bom (e só o que há de bom, viu?) que existe em nosso país.

E como todas as religiões, esse troço que os brasileiros chamam de "Espiritismo" (que nada tem a ver com o Espiritismo original embora quase todos pensem que tenha), também resolveu ser "patriota". Tudo graças a um ingênuo caipira de Pedro Leopoldo que caiu na doutrina de paraquedas e que até a morte nunca entendeu o que realmente estava fazendo dentro dela. O nome do ingênuo caipira? Chico Xavier.

Em um belo dia de 1938, o governo Vargas, na época uma ditadura (de direita, viu? Embora nacionalista, Vargas era de direita), pediu para que a FEB (Federação - que se diz - "Espírita" Brasileira), para escapar de seu fechamento (havia uma caça às bruxas ao pé da letra - achavam que espiritualismo era feitiçaria), fizeram um acordo: a entidade teria que lançar um livro que falasse bem do país e que não fugisse do conteúdo típico dos alienantes livros de Historia da época, cheio de mitos e lendas, como qualquer Bíblia, não condizentes com o que aconteceu na realidade.

Chico Xavier, que inventou que era médium, mas era bom escritor, topou o "desafio" e escreveu o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (que nome intragável...)com base no que havia nos livros de História. Todo narrado em forma de conto de fadas (muito lindo, mas nada sério), começava narrando de maneira pomposa a chegada de Cabral como se ele não quisesse explorar as terras e o povo que vivia nelas, sendo confundido como um altruísta revolucionário. Xavier ainda teve o delírio de dizer que os anjos comemoraram a chegada com uma festa no céu. Quanta asneira em tão poucas páginas, ja no inicio. Imagine o resto do livro.

Para que Xavier se auto-canonizasse, inventou que tudo não saiu da mente dele, atribuindo um de seus superpoderes (SHA-ZAAAM!), a psicografia. Para poder vender o livro, colocou o nome de um falecido escritor da época, Humberto de Campos, que além de ter sido popular, serviu de uma espécie de vingança. Pois Campos, falecido em 1934, quatro anos antes da empreitada, havia feito uma crítica desagradável, mas justa, a outro livro de Xavier, o fraudulento Parnaso do Além Túmulo, feito de pastiches criados pelo suposto médium usando nomes famosos para se promover. Uma desgraça.

E infelizmente o livro, apesar de ter ido a julgamento (parentes de Campos processaram Xavier), o juri preferiu fazer vistas grossas, já que não sabia como julgar uma obra supostamente escrita por um morto. A tal vista grossa acabou soando como uma vitória ao médium-farsante que, com a ajuda da mídia e da FEB, esta a sua tutora, acabou se consagrando, enganando muita gente (algo que continua a fazer mesmo depois de morto), carente de alguém que faça o papel de "guardiã da humanidade".

O livro acabou servindo também para inserir o sentimento de patriotismo ao "Espiritismo" brasileiro, algo completamente reprovável no Espiritismo original, pois além de espíritos não terem pátria, o que chamamos de "pátrias" são divisões materiais criadas pelos homens e são provisórias e altamente mutáveis, ficando bem longe da divinização a que lhe é atribuída. Sim, porque no Brasil, a pátria é divinizada, quase como um segundo Deus a habitar o senso de afeto dos brasileiros menos racionais.

E Xavier, que era católico e nunca entendeu o Espiritismo, tinha mesmo que reforçar o patriotismo tolo a ponto de dizer que nos dias atuais - preparem-se para rir - o Brasil seria, além de totalmente próspero, líder absoluto do planeta, governando todas as nações como uma poderosa potência. A realidade mostra que Chico Xavier, que tinha leves sinais de demência, estava delirando demais.

E assim, os tolos seguidores do maior charlatão do mundo, insatisfeitos com o fictício Deus antropomorfizado que cultuam, acabaram por criar outra divindade para celebrar em seus ociosos momentos de ilusão, acreditando sempre numa prosperidade que há muitos anos a realidade mostra ser impraticável, no contexto permitido pelas lideranças políticas e (principalmente) as não-políticas que controlam o nosso país, sempre avessas ao bem estar coletivo da população controlada.

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